O CBD é um dos compostos químicos mais comuns encontrados na planta de cannabis. É classificado como um canabinoide, junto com o tetraidrocanabinol (THC) e o canabinol (CBN), e mais de uma centena de outros compostos da planta. Os canabinoides são produtos químicos naturais que se tornaram conhecidos por seu potencial medicinal e de bem-estar.
Também está claro que, em alguns casos, o CBD pode ser usado para tratar doenças específicas para as quais outros tratamentos disponíveis não foram eficazes. Embora saibamos que ele produz efeitos no sistema nervoso central, em contraste com o THC, que é psicoativo, o CBD não cria a chamada sensação de “euforia”.
Pesquisadores da Universidade da Carolina do Sul descobriram que a maconha tem potencial no tratamento de doenças autoimunes em que a inflamação crônica é muito presente, o caso de artrite, lúpus, colite e esclerose múltipla. Descobertas mostram que a chave do potencial do canabidiol está em sua capacidade de reprimir algumas funções imunes, principalmente a inflamação.
O sistema imunológico e o sistema endocanabinoide como eles se relacionam?
Em suma, o sistema imunológico é a principal defesa de nosso corpo contra doenças e outras ameaças potencialmente prejudiciais. Quando funcionando corretamente, o sistema imunológico identifica e ataca intrusos, como bactérias, vírus e parasitas, distinguindo-os do tecido saudável do nosso corpo.
Ele faz isso por meio de uma sequência muito bem coordenada de atividades no nível celular, que podem ser divididas em quatro etapas:
- Identificação de um antígeno invasor potencialmente maligno;
- Mobilização das forças de defesa para afastá-lo ou destruí-lo;
- Ataque ao antígeno invasor;
- Estabelecimento do controle e encerramento do ataque;
Tal como nas melhores tropas militares, o sistema imunológico também precisa de constante treinamento e aperfeiçoamento.
Afinal, há tantas formas de ser atacado que não sobreviveríamos sem defesas capazes de aprender novas táticas e estratégias.
Por isso, todos temos a chamada imunidade inata, que independe de contato com antígenos para realizar a sua função.
O outro tipo de imunidade é a adquirida, que se desenvolve quando nossas defesas aprendem a identificar um antígeno até então desconhecido, melhorando a sua capacidade de resposta em novas invasões.
Os linfócitos, ou células B e T, lutam contra os antígenos e ajudam o corpo a se lembrar das substâncias que são ameaças para que, da próxima vez, o sistema imunológico possa agir de forma rápida e eficaz.
Apesar da existência do Sistema Endocanabinoide só ter sido confirmada por pesquisadores na década de 1990, já sabemos que esse sistema pode desempenhar um papel importante em muitas funções corporais e cerebrais. Os receptores endocanabinoides são expressos em todo o sistema nervoso central, bem como no sistema imunológico humano.
Pensa-se que as interações entre os endocanabinóides e os receptores influenciam o humor, as emoções, o apetite, a sensação de dor e a memória, entre outros processos fisiológicos e cognitivos importantes. Os fitocanabinóides (os mais conhecidos são o CBD e o THC) interagem com este sistema de maneira semelhante aos endocanabinóides.
Quais os efeitos do canabidiol no sistema imune?
Foi sugerido que o canabidiol pode ter potencial como um tratamento auxiliar para algumas doenças autoimunes.
Uma doença autoimune ocorre quando o sistema imunológico começa a atacar células, tecidos e órgãos saudáveis. Isso pode ocorrer basicamente em qualquer parte do corpo e pode resultar no enfraquecimento de funções corporais específicas e, em alguns casos, em condições de risco de vida. As doenças autoimunes mais comuns incluem esclerose múltipla, artrite reumatoide e psoríase, doença de crohn entre outras.
A inflamação desempenha um papel importante nas doenças autoimunes, como um anti-inflamatório o canabidiol pode ajudar o corpo a combater a doença. A natureza imunossupressora do ativo pode ajudar a lidar com os sistemas imunológicos hiperativos que atacam a si próprios.
Com base em pesquisas recentes que sugerem que algumas moléculas ambientais, externas ao DNA, podem alterar seu funcionamento, o estudo examinou se o princípio ativo da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), pode afetar o DNA através de caminhos “epigenéticos”.
O grupo de moléculas com a capacidade de modificar o DNA e o funcionamento dos genes que controla é coletivamente designado como o epigenoma. Ele é composto por um grupo de moléculas chamas de histonas, que são responsáveis pela inflamação, tanto benéfica quanto nociva.
E como o canabidiol pode ser benéfico nas doenças autoimunes?
Doenças autoimunes podem ser bastante difíceis de tratar, porque, com a imunossupressão, o organismo fica exposto a outras enfermidades.
Fármacos convencionais devem ser prescritos levando em conta esse e outros fatores para que não venham a causar ainda mais problemas de saúde. Em alguns casos, a relação custo-benefício é demasiadamente ruim para o paciente, inviabilizando o tratamento.
Por isso, o CBD pode ser a melhor alternativa, considerando a sua capacidade de imunossupressão e anti-inflamatória.
Exemplos de doenças que o canabidiol pode ser benéfico
- Artrite reumatoide
Doença mais prevalente em mulheres a partir dos 30 anos, a artrite reumatoide afeta as articulações, causando dores e inflamação. Se não for contido, o processo inflamatório pode levar à destruição completa das articulações e das periarticulações.
Trata-se de uma doença autoimune de causas desconhecidas, que começa com uma desregulação do sistema imunológico.
Pessoas que sofrem de AR apresentam articulações inchadas, quentes e doloridas. Também vem acompanhada de rigidez, mais acentuada pela manhã ou depois de períodos de inatividade.
Como se vê, é uma doença bastante grave, ainda mais se considerarmos que nem sempre os tratamentos conservadores surtem efeito. Para uma boa parte das pessoas que sofrem de artrite reumatoide, o canabidiol é a chance de recuperar a mobilidade e de se livrar das dores.
Embora a ciência ainda não tenha avançado tanto no sentido de comprovar a sua eficácia no tratamento dessa condição, com o que se sabe, já é possível indicá-lo com alguma segurança. Afinal, sendo uma doença inflamatória e autoimune, a artrite reumatoide pode ser controlada a partir de medicamentos que contenham canabidiol.
- Doença de Crohn
Ela se manifesta geralmente no intestino grosso, também chamado de cólon, e na seção inferior do intestino delgado, conhecida como íleo. No entanto, pode aparecer também na boca e até no ânus.
Essa é uma doença cujo diagnóstico ainda intriga os médicos, já que seus sintomas jamais se apresentam da mesma forma de uma pessoa para outra. Os mais recorrentes são diarreia, perda de peso, cólica abdominal, febre e hemorroidas.
No seu tratamento, o CBD é eficaz, porque, assim como a artrite, a doença de Crohn também gera um processo inflamatório, que é contido pelo canabidiol.
- Diabetes
Outra doença cujo tratamento pode ser difícil é a diabetes. Nela, as células beta-pancreáticas são destruídas pelas defesas do corpo, levando a problemas de concentração de açúcar no sangue.
Na maioria dos casos, o tratamento é à base de reposição de insulina, o hormônio responsável pelo controle das taxas glicêmicas, cuja produção diminui ou se encerra com a doença.
O CBD pode ser eficaz, ajudando pessoas diabéticas não só a controlar os níveis de açúcar, como impedindo-as de se tornarem obesas, como aponta este estudo.
Por fim…
Por tudo que vimos até aqui, fica difícil discordar que o canabidiol é uma das melhores alternativas no tratamento de doenças autoimunes. Isso porque ele é eficaz não apenas como imunossupressor e anti-inflamatório, mas também ajuda a combater outros tipos de deficiência.
Veja, por exemplo, os benefícios que ele traz para quem sofre de diabetes. No tratamento dessa enfermidade, o CBD não só contribui para regular a glicemia como impede a pessoa de ganhar gordura.
O CBD poderia ser mais um medicamento como tantos outros imunossupressores com as suas reações adversas. Além de eficaz nesse quesito, ele também vem se mostrando seguro, já que provoca raros efeitos colaterais. Entre os poucos casos relatados, destacam-se dores de cabeça, tonturas e alterações de apetite.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que os efeitos adversos do CBD podem ser resultado de interações com outros medicamentos que o paciente esteja tomando.
O canabidiol age no sistema imunológico como um poderoso modulador por meio da imunossupressão. Ainda que sejam necessárias mais pesquisas conclusivas, há fortes evidências que apontam para sua eficácia.