É uma doença crônica e progressiva, na sua grande maioria afeta pessoas do sexo feminino, é caracterizada por uma deposição anormal do tecido adiposo subcutâneo. É classificada como uma doença do tecido conjuntivo frouxo. Estes depósitos anormais se caracterizam, histológicamente, pela presença de adipócitos hipertróficos, células inflamatórias e extravasamento de componentes de vaso sanguíneos e linfáticos.

O lipedema apresenta o aumento simétrico dos glúteos, quadris e pernas, os membros superiores também são afetados em uma parcela significativa dos pacientes afetados por esta patologia. Geralmente os punhos, pés e tronco são poupados. Não é incomum erros no diagnóstico, devido ser muito similar com outras patologias como a obesidade e o linfedema.

A condição física para um paciente com essa patologia é um fardo psicossocial, devido a intensidade da dor e o aumento excessivo dos membros afetados, que por muitas vezes limitam a capacidade de se locomoverem ou praticarem atividade física.

Outro fator agravante é a posição de ficar em pé por longos períodos a as altas temperaturas, pois a condição pode causar afastamento do trabalho ou levar a incapacidade ocupacional.

Processo saúde doença do lipedema

O lipedema é uma doença que afeta na maioria das vezes as mulheres, apresentando seus primeiros sintomas na puberdade. Entretanto algumas pesquisas mostram relatos de pacientes que apresentaram sintomas após gestação e até mesmo na menopausa.

Pacientes do sexo masculino geralmente apresentam condições que estão associadas aos altos níveis de estrogênio e baixos níveis de testosterona, como por exemplo o hipogonadismo (deficiência funcional das gonôdas), masculino e a doença hepática.

O lipedema é classificado em cinco tipos:

  • Tipo l: acometimento do umbigo até os quadris;
  • Tipo ll: acometimento até os joelhos com presença de tecido gorduroso na parte lateral e inferior dos joelhos;
  • Tipo lll: acometimento até os tornozelos como formação de “manguito” de gordura logo acima dos pés;
  • Tipo lV: acometimento dos braços. Bastante associados aos tipos ll e lll;
  • Tipo V: dos joelhos para baixo;

Evolução da doença

Estágio 1: a superfície da pele é normal, ocorre aumento da gordura do tecido subcutâneo e há a presença de nódulos ou bolinhas de gordura, como se fossem pérolas por baixo da pele;

Estágio 2: a pele é irregular, um pouco mais flácida do que o esperado para a idade e com aspecto de celulite, e os nódulos que podemos palpar ficam maiores.

Estágio 3: a pele é significativamente mais flácida, com a presença de dobras de pele. Isso pode causar dificuldade para caminhar e se movimentar. Além dos nódulos podemos palpar também áreas de fibrose, que são como cicatrizes por baixo da pele causadas pela inflamação crônica;

Estágio 4: todas as alterações descritas no estágio 3, mais o comprometimento do sistema linfático. O lipedema pode ocorrer em qualquer estágio, mas é frequentemente encontrado em mulheres com lipedema em estágio 3, quando é chamado de lipolinfedema, ou no estágio 4.

Lipedema: Sintomas

O lipedema é uma doença inflamatória. Entre as queixas mais comuns em pacientes com lipedema, estão dor moderada a intensa ao realizar pressão digital nos membros afetados e a maioria sente dor espontânea. O inchaço simétrico dos membros inferiores que termina nos tornozelos é um dos sinais cardinais do lipedema, e que pode ser responsável por sensação de peso, fadiga e desconforto nas pernas. O inchaço e a dor pioram durante o clima quente e a realização de exercícios, e não são aliviados pela elevação dos membros. Além disso, o peso em excesso nas pernas dificulta a mobilidade.

Pacientes relatam frequentemente a ocorrência de hematomas, assim com presença de varizes, devido ao aumento da permeabilidade e fragilidade capilar presentes na doença. O sinal de stemmer, o qual se faz uma prega com os dedos sobre a pele de um dos dedos do pé, é negativo, o que torna possível a diferenciação com linfedema.

É importante ressaltar os problemas emocionais das mulheres afetadas com essa patologia, devido ao excesso de peso mal distribuído, incluindo constrangimento, ansiedade e depressão, os quais prejudicam a qualidade de vida como um todo.

Alguns pacientes apresentam somente sintomas leves que não avançam, enquanto outros progridem de forma gradual ou acelerada. Os sintomas podem se intensificar em estágios avançados da doença, e isso pode se associar ao aumento de doenças cardiovasculares e renais.

Lipedema: Diagnóstico

O diagnóstico do lipedema é baseado na apresentação de clínica e em critérios de exclusão. O lipedema é uma doença frequentemente diagnosticada devido à semelhança com outras patologias comumente encontradas como:

  • Obesidade;
  • Linfedema;
  • Doença de Dercum;
  • Insuficiência venosa crônica;

Diante disso, é fundamental estar atento para as diferenças vistas basicamente ao exame físico desses pacientes.

A anamnese também tem papel crucial no diagnóstico dessa doença, pois exige uma avaliação cuidadosa das áreas afetadas. Na inspeção é importante avaliar se há hematomas causados pela fragilidade capilar que esta aumentada ou presença de pequenos vasos sanguíneos na pele.

Já no linfedema a pele geralmente está alterada e espessada, enquanto no lipedema permanece relativamente normal. No entanto pode ser difícil o lipedema do linfedema, pois ambas patologias podem coexistir em estágios avançados da doença. A dor encontrada durante a pressão nos membros afetados não é vista m pacientes com linfedema.

Outros exames de imagem como ultrassonografia ou tomografia computadorizada e ultrassonografia cutânea de alta resolução também tem sido utilizados em tais doenças, embora raramente sejam aplicados na prática.

Opções de tratamento

O tratamento deve ser multidisciplinar:

  • Médicos;
  • Fisioterapeutas;
  • Nutricionistas;
  • Educadores físicos;
  • Psicólogos e terapeutas;

Envolve especialidades médicas como:

  • Dermatologista: especialista em maiores cuidados com a pele;
  • Cirurgião vascular: que consegue avaliar a associação com insuficiência venosa crônica e linfedema;
  • Cirurgião plástico: desempenha tratamento cirúrgico que consiste em lipoaspiração.

Acompanhamento com fisioterapeuta especializado, que consiga colocar em prática a terapia física complexa, também utilizada no tratamento de linfedema com drenagem linfática, cuidados com a pele, exercícios físicos e uso de bandagens

A alimentação é outro pilar essencial no tratamento, por isso o acompanhamento com nutricionista é fundamental, não só de modo a reduzir calorias e visando a perda de peso, mas principalmente retirando da dieta alimentos que provocam inflamação.

O exercício físico também auxilia no controle de peso, além de ajudar no fortalecimento muscular e ligamentar, proporcionando melhor qualidade de vida e menos chances de lesões osteoarticulares.

Pacientes com lipedema sofrem com problemas físicos impostos pelas dificuldades de mobilidade e dor, mas também tem o lado psicossocial afetado pela dificuldade no diagnóstico e pela forma como a paciente se enxerga, portanto, o acompanhamento psicológico é fundamental.

O cuidado da pele é de suma importância para esses pacientes, pois a aplicação regular de cremes hidratantes na pele evita o ressecamento, reduzindo assim o risco de infecção, principalmente a celulite.

A atividade aquática é particularmente benéfica, pois a pressão da água promove drenagem linfática e a flutuabilidade reduz a carga de articulações dos membros inferiores, diminuindo o risco de futuras complicações ortopédicas.

O uso de meias de compressão é útil quando há edema associado e pode ajudar a prevenir a progressão. A drenagem linfática manual e a terapia de compressão pneumática intermitente podem ser tentadas com vários graus de sucesso.

Ainda sobre tratamentos conservadores, os medicamentos fitoterápicos, como castanha-da-índia ou diosmina, costumam ser experimentados com resultados variados e serem mais eficazes quando a um componente venoso no inchaço.

No entanto…

Cirúrgico, a lipoaspiração assistida por jato de água pode ser uma opção se o tratamento conservador falhar. Esse é um procedimento poupador que remove o excesso de gordura e geralmente é realizado sob anestesia local e tem menor probabilidade de danificar os vasos linfáticos quando comparado aos procedimentos padrões de lipoaspiração.

Muitas pacientes relatam melhora na locomoção, dor e qualidade de vida. Os resultados parecem durar ao longo do tempo, no entanto, infelizmente, esses procedimentos não estão amplamente disponíveis e não são cobertos por seguradoras.

Em casos complicados e muito avançados de lipedema com limitações mecânicas grave, uma abordagem cirúrgica mais invasiva é a lipectomia, que consiste na excisão de grandes depósitos de tecido adiposo subcutâneo. No entanto é importante saber que, essa técnica pode estar associada ao desenvolvimento de linfedema secundário.

Lipedema e a alimentação

O controle da alimentação é essencial no lipedema, com uma dieta adequada com nutricionista é de grande valia no tratamento, não só para o controle de peso, que é de suma importância, mas para a não progressão da doença, e também para o início da alimentação anti-inflamatória.

Alimentos permitidos no lipedema:

  • Proteínas: peixe, frango, boi e ovo;
  • Vegetais: vegetais verdes e coloridos, abóbora, cebola, alho, cogumelos e ervas em geral;
  • Frutas: frutas sempre frescas;
  • Castanhas;
  • Óleos e gorduras: azeite de oliva e banha;
  • Laticínios: manteiga;
  • Adoçantes: mel;
  • Bebidas: chás, água;

Alimentos a serem evitados:

  • Batata doce;
  • Frutas secas;
  • Farinha sem glúten, aveia, feijão e lentilha;
  • Leite e iogurte natural;
  • Café, álcool, e sucos naturais coados;

Alimentos proibidos:

  • Batata inglesa, milho e conservas;
  • Frutas em conserva;
  • Margarina, óleo de soja ou girassol, frituras em geral;
  • Farinha branca, farináceos, arroz branco;
  • Iogurtes saborisados, leite condensado e sorvete;
  • Açúcares em geral;
  • Refrigerantes, sucos integrais, energéticos e bebidas gaseificadas;

Lembre-se o apoio nutricional é essencial ao tratamento.

Alimentos que mais causam inflamação

Açúcar: hoje o açúcar vem escondido em muitos alimentos, está cada vez mais difícil evitar a adição de açúcar, pois os fabricantes de alimentos adicionam grandes doses para melhorar o sabor de muitos produtos embalados. As pessoas cortam o açúcar puro, mas acabam consumindo ele em outros alimentos sem perceber. Consumir muito açúcar adicionado leva a inflamação crônica e dificuldade no controle do peso. Tais alimentos são:

  • Biscoitos, doces e alguns cereais;

Alimentos disfarçados: pães, barras de cereais e molhos para salada;

Por que açúcares adicionados causam inflamação?

Quando você digere alguma coisa, o açúcar entra no seu sangue. A insulina coloca o açúcar nas células para fornecer energia. Mas quando há muito açúcar ao mesmo tempo, a insulina tenta armazenar o excesso nas células de gordura, fazendo com que elas fiquem maiores. Com o tempo isso pode levar ao ganho de peso ou a resistência à insulina, o que está associada a outras condições metabólicas.

Nosso corpo não foi projetado para processar doses tão altas de açúcar adicionado ao longo do dia. Por isso é preciso estar mais consciente ao escolher produtos e ler o rótulo.

Ao ler os rótulos dos alimentos procure as seguintes informações:

  • Lista de ingredientes: se você encontrar açúcar ou algum tipo de xarope listado entre os três primeiros ingredientes é um sinal revelador de sobrecarga de açúcar.
  • Informação nutricional: procure alimentos com menos de 4 gramas de açúcares adicionados por porção. A maioria dos rótulos inclui uma linha para adição de açúcar.

Gordura trans: os fabricantes de alimentos criaram gordura trans através do processo de hidrogenação. A adição de hidrogênio a gordura altera a textura, consistência e aumenta o prazo de validade dos produtos. Mas, não há um nível seguro de gorduras trans para consumir. Portanto não coma mais de uma grama de gordura trans por dia.

Como limitar as gorduras trans?

Os fabricantes de alimentos sabem que as gorduras trans fazem mal, e as pessoas estão evitando, por isso foram criativos com os rótulos. Embora muitos rótulos de alimentos indiquem claramente “sem gordura trans”, um produto ainda pode ocultar meio grama ou menos por porção de produtos. E é aqui que fica complicado, porque se você come mais de uma porção, excede facilmente o limite de uma grama de gordura trans ou menos por dia.

Uma maneira de descobrir se o item está realmente livre de gordura trans, é olhar os ingredientes. Se você encontrar óleos hidrogenados ou parcialmente hidrogenados na lista de ingredientes, o alimento contém gordura trans.

Ômega 6: os ácidos graxos ômega 6 são gorduras que o corpo usa para obter energia. Como o corpo não pode produzi-los, você obtém nos alimentos que come.

Alimentos ricos em ômega 6:

  • Óleo de canola;
  • Óleo de milho;
  • Maionese;
  • Óleo de cártamo;
  • Óleo de girassol;
  • Óleo de amendoim;

Precisamos desses ácidos graxos para crescimento e desenvolvimentos normais. Eles também contribuem para o bom tipo de inflamação no corpo e ajuda a cura-lo. Mas você precisa de um equilíbrio saudável de ômega 6 em seu corpo. Consumir ômega 3 ajuda a alcançar esse equilíbrio. Se você não possui ômega 3 suficientes e muito ômega 6, você cria uma resposta pró-inflamatória e consistente.

Como limitar o ômega 6:

  • Coma mais alimentos ricos em ômega 3;
  • Coma menos alimentos ricos em ômega 6;
  • Use azeite para cozinhar em fogo mais baixo;

Carboidratos refinados: os carboidratos processados estão se tornando um dos pilares da dieta de muitas pessoas. Eles não apresentam nutrientes ou fibras, mas são ricos em calorias. Todos os produtos derivados da farinha branca são carboidratos refinados.

Alguns exemplos de carboidratos refinados:

  • Pães e pãezinhos;
  • Biscoitos;
  • Batata frita;
  • Cereais açucarados;
  • Arroz branco;

Os carboidratos refinados são semelhantes aos açúcares adicionados. Nada retarda sua degradação. Eles atingem a corrente sanguínea rapidamente e aumentam o açúcar no sangue, criando uma resposta inflamatória. Seu corpo tenta remover o açúcar do sangue e isso estimula a inflamação.

Benefícios da dieta cetogênica para o lipedema

Alguns estudos tem mostrado evidências anedóticas que uma dieta cetogênica pode ajudar a reduzir o acúmulo de gordura, a dor e o desconforto causado pelo lipedema.

Algumas das evidências dessas pesquisas afirmam os efeitos benéficos da dieta cetogênica para o lipedema.

Ajuda a perder peso, quando mulheres com lipedema mudam para uma dieta cetogênica, ocorre uma mudança resultante em seu metabolismo. Seus corpos são forçados a metabolizar gorduras em vez de glicose para produzir energia. Isso pode levar a queima de parte do excesso de gordura corporal acumulada. Muitos estudos confirmam que quando as pessoas reduzem completamente os carboidratos e se esgotam em proteínas e gorduras, elas tendem a comer menos e perder peso pode ajudar a eliminar a retenção de líquidos.

A dieta cetogênica pode ser potencialmente útil na redução de retenção de líquidos linfáticos e do inchaço dos membros. Também pode ajudar a reduzir a dor e a inflamação.

Mulheres com lipedema podem se beneficiar da perda de água de seus tecidos, o que pode ajudar a reduzir a retenção de água e o correspondente inchaço dos membros. A dieta cetogênica tem efeito diurético, iniciando a perda de peso da água nos primeiros dias, seguida pela perda de peso de gordura.

Pacientes com lipedema tendem a ter maiores concentrações de sódio no tecido adiposo acumulado nas pernas e quadris. Uma dieta cetogênica, ao reduzir a insulina e liberar peso da água, também ajuda a remover o sal do corpo.

Mulheres com esta patologia tendem a se sentir mais deprimidas, desmotivadas. A dieta cetogênica ajuda na melhora do seu estado mental como depressão e ansiedade.

Embora seja necessária uma mudança na dieta para ajudar a facilitar as mudanças metabólicas internas, ela precisa ser complementada com exercícios para ajudar a mobilizar o líquido e a gordura e acúmulos no lipedema.

Concluindo…

O tratamento dietético no lipedema é fundamental para melhorar a qualidade de vida desses pacientes, além de aprimorar outros tratamentos cirúrgicos, farmacológicos e de estilo de vida. Sabe-se também que o emagrecimento é o ponto chave. E ele pode ser alcançado com diferentes padrões, tais como uma dieta cetogênica, acompanhada pelo nutricionista, sempre buscando a melhora na saúde desses pacientes.