A doença de Alzheimer (DA), é uma doença neurodegenerativa irreversível que causa inflamação no cérebro. Essa doença diminui progressivamente a memória, a compressão, a linguagem, a capacidade de aprendizagem, além de causar alteração de personalidade e comportamento.
Estima-se que há aproximadamente 50 milhões de casos de demência em todo o mundo, sendo a DA a principal. O número de casos dessa doença triplicará até 2050 com o envelhecimento crescente da população.
O envelhecimento faz com que o ser humano busque cada vez mais mudanças em seus aspectos fisiológicos, e a nutrição está ligada em alterações nestas mudanças, o que pode tornar o envelhecimento saudável ou não.
A influência dos aspectos nutricionais no processo de neurodegeneração vem sendo estudada desde sua participação protetora até a sua possível ação no retardo das disfunções e alterações degenerativas.
Fatores de risco como hipertensão, dislipidemia, diabetes e obesidade parecem aumentar o risco do surgimento de demências em idosos por causarem danos ao tecido cerebral tais como estresse oxidativo, inflamação e disfunção endotelial.
Alzheimer de início precoce
Alzheimer de início precoce é uma forma rara da doença. Menos de 10% de todas as pessoas com doença de Alzheimer tem início precoce. É considerado precoce quando a doença é diagnosticada antes dos 65 anos.
Alzheimer de início tardio ou esporádico
É a forma mais comum de aparecimento da doença sendo responsável por cerca de 90% dos casos. Geralmente ocorre depois dos 65 anos. Afeta pessoas que pode ter ou não antecedentes da doença na família.
Alzheimer familiar
Conhecida por ser inteiramente hereditária e menos comum, sendo passada de uma geração para outra. Se um dos progenitores tem um gene mutado, cada filho terá 50% de probabilidade de herda-lo. A presença do gene significa que existe possibilidade de a pessoa desenvolver a doença de Alzheimer, normalmente entre 40 e 60 anos.
Papel do cuidador na doença de Alzheimer
Diante do agravo da doença de Alzheimer, muitos idosos deixam de realizar as atividades de vida diária, como tomar banho, mudar de roupa ou até mesmo se alimentar.
O cuidador então, seja familiar ou não, tem papel fundamental no suporte ao idoso. Entre os cuidados necessários acometido pela doença, a alimentação está presente como cuidado físico, social e psicológico.
Nutrição e Alzheimer
A nutrição tem um papel muito importante nesta patologia, pois é capaz de evitar que o paciente fique ainda mais vulnerável e proporciona uma melhor qualidade de vida, retardando os sintomas e a progressividade da doença.
A inclusão apropriada de nutrientes específicos pode apresentar um papel na proteção do paciente com DA, como é o caso da suplementação combinada de antioxidantes como a vitamina C e vitamina E, que tem sido utilizada para reduzir a incidência do mal de Alzheimer.
Como a doença é causada por interações genéticas e fatores ambientais, onde os fatores de risco associados são:
- Idade avançada;
- Doenças cardiovasculares;
- Padrão alimentar não saudável;
- Excesso de peso;
- Baixa atividade física e cognitiva;
- Depressão;
- Tabagismo;
- Estresse;
Uma dieta saudável pode ser fator protetivo contra o declínio cognitivo. Além disso, os cuidados com a dieta são de extrema importância para garantir um bom estado nutricional do paciente.
A alimentação influencia a qualidade de vida, sendo um meio de promover o bem-estar durante a doença.
Alimentação na prevenção da doença de Alzheimer
A alimentação adequada e peso saudável tem papel importante na prevenção de Alzheimer. A inclusão de frutas, vegetais, peixes, azeite na dieta pode reduzir o risco de Alzheimer.
Algumas vitaminas como:
- Vitamina B12;
- Vitamina B3;
- Vitamina B9;
Estão relacionadas a proporcionar o menor risco de Alzheimer. Algumas especiarias como a cúrcuma e o açafrão mostram sucesso na prevenção na degeneração cerebral.
Nutrientes como ácido fólico e ômega 3 podem ajudar na determinação da quantidade de neurotransmissores que alteram os processos cerebrais. Pesquisas mostram que pessoas com dietas ricas em gorduras saturadas e baixa quantidade de ingestão de fibras, frutas e vegetais, tem uma maior chance de desenvolvimento de doença de Alzheimer.
Porém já pessoas com uma dieta mais equilibrada, rica em fibras, vitamina B12, B6 e ômega 3, a chance de desenvolvimento de doenças degenerativas diminui.
Dietas ricas em gorduras saturadas, gordura trans e álcool são deficientes em vitaminas e minerais e podem estar associadas com o aumento do risco para doença de Alzheimer.
Dietas ricas em alimentos como:
- Abacate;
- Frutas;
- Verduras;
Possuem gorduras boas e antioxidantes essenciais para a proteção contra a perda da memória. Esses fatores auxiliam tanto antes, como depois de adquirir a doença.
Pacientes com DA apresentam deficiências nutricionais de muitas vitaminas e minerais. As deficiências de micronutrientes podem resultar não apenas na perda de massa magra, mas também declínio das funções imunológicas e aumento do risco de fraturas, dano oxidativo no cérebro e deficiência nos neurotransmissores, prejudicando a função cognitiva.
Para idosos portadores de DA não avançada caracterizada pela falta de autonomia em suas atividades rotineiras, o estabelecimento das necessidades energéticas é importante, pois essa população é com frequência desnutrida.
Deve-se garantir uma dieta adequada ao portador de mal de Alzheimer, que inclua proteínas e calorias extras de acordo com a idade e sexo e atividade.
A dieta dos pacientes deve conter níveis mais elevados de proteínas e menor de carboidrato desde o início do tratamento da doença, particularmente para manter os níveis de neurotransmissores como serotonina, adrenalina e dopamina. Os neurotransmissores precisam de alguns percursores como triptofano, colina e tirosina, que estão presentes nos alimentos proteicos.
Alterações do estado nutricional nos estágios da doença
Conforme a progressão da doença, há alterações de consumo alimentar. Na fase inicial da DA, o idoso pode em decorrência do esquecimento, deixar de se alimentar ou aumentar a ingestão de alimentos, por não concordar que já se alimentou.
Em seguida, progride para a dificuldade na preparação dos alimentos e de leva-los a boca.
Nos estágios mais avançados, aparecem as dificuldades na mastigação e deglutição.
Devido a tudo isso, é comum que o paciente acometido por essa doença apresente perda de peso. Sendo assim se destaca a importância do acompanhamento de um profissional da área de nutrição.
Por isso é preciso estar a atendo a mudanças bruscas de peso e comunicar a equipe de saúde desse paciente caso isso aconteça.
Se perceber ainda que o idoso apresenta risco em engolir o alimento, ou ainda tossir durante a refeição, é sum sinal para a necessidade de adaptação da dieta.
Orientações na dietoterapia
- Dividir a alimentação diária em várias refeições é de extrema importância quando o portador da doença de Alzheimer tem baixa ingestão alimentar;
- As frutas são alimentos ricos em micronutrientes e devem estar presentes diariamente na alimentação;
- Verduras e legumes também devem estar presentes diariamente nas refeições, sendo grandes aliadas na função intestinal. Se o idoso apresentar dificuldades no consumo pode ser adicionado em sopas e purês;
- Ultraprocessados, ricos em sódio e gorduras saturadas, devem ser evitados, principalmente no controle da pressão arterial;
- Ultraprocessados ricos em açúcar, sódio e aditivos, não devem estar presentes na rotina alimentar. Prefira oferecer ao idoso suco de frutas naturais ou a própria fruta;
- A necessidade do consumo de proteínas aumenta com a idade. Ofereça diariamente carnes cozidas, grelhadas ou assadas, além de ovos cozidos, mexidos ou omelete.
Desnutrição energético-proteica
A desnutrição energética-proteica é frequente na doença de Alzheimer e tende a piorar com a severidade da doença.
A perda de peso acentuada leva a complicações clínicas, perda de massa muscular, quedas, escaras, maior risco de infecções.
Para prevenir a perda de peso e tratar possível desnutrição do idoso, pode-se utilizar suplementação caseira e/ou industrializada.
Para manter a massa muscular é importante a ingestão de proteínas. Se o idoso apresentar dificuldades de mastigar carne por exemplo, substitua por ovos.
Suplementação alimentar para ganho de peso
- Procure um profissional nutricionista para equilíbrio da dieta;
- Adicione um fio de azeite em todo prato de refeição;
- Sirva legumes cozidos;
- Se houver dificuldade em ingestão de carne, triture no liquidificador e acrescente no meio de sopas e cremes;
Suplementação alimentar industrializada
Além de enriquecer alimentos, podemos utilizar suplementos nutricionais orais. Existem vários tipos de suplementos completos no mercado, podendo ser na versão em pó ou líquido, pronto para uso. Se optar pela opção em pó pode ser adicionada à água, leite ou misturado a refeições.
No mercado também existem módulos de nutrientes, como módulos de proteína.
Hidratação
Com a diminuição do reconhecimento de sede e a busca por água, a desidratação é um problema comum dentre idosos com Alzheimer.
A água é indispensável a saúde, pois ela está intimamente ligada ao funcionamento de órgãos, como rins e intestino.
Atenção pele ressecada, ausência de suor e mudança do estado mental são sinais de desidratação.
Ofereça líquidos durante o dia todo, como água filtrada, água com gás, água saborizada, água de coco e chás, levando em consideração qual bebida o idoso mais aceitar.
Para idosos com dificuldades de tomar água ofereça frutas com maior quantidade de água, como melancia, laranja e abacaxi, para ajudar na quantidade de líquidos ingeridos, mas sempre lembrando que nada substitui a água.
Dieta inflamatória
Dieta inflamatória é aquela composta, principalmente de alimentos processados e ultraprocessados, é associada ao baixo desempenho cognitivo.
Isso só reforça a recomendação de sempre trocar os alimentos processados pela indústria por alimentos in natura, frutas, hortaliças, carnes, ovos, produzidos em casa ou comprado em feiras, para prevenção e acompanhamento dietético na doença de Alzheimer.
Lembre-se não existe alimento milagroso que trate o desenvolvimento do Alzheimer. Porém uma dieta saudável auxilia na qualidade de vida, na manutenção do estado nutricional e na diminuição do comprometimento na progressão da doença.
Consistência da dieta
Nas fases avançadas da doença é comum haver dificuldades na deglutição (disfagia), sendo necessário adaptações na consistência das refeições para uma alimentação mais segura e com menos esforços.
Alguns sinais de disfagia são:
- Presença de tosse;
- Engasgos;
- Pigarros;
Sempre comunicar as equipes de saúde se observar está dificuldade de engolir.
Tenha muita atenção ao oferecer líquidos ao idoso. Os líquidos são os que oferecem maior risco de aspiração, pois são engolidos rapidamente, e parte deles pode penetrar nas vias aéreas.
Dieta enteral
Quando a alimentação e a hidratação pela boca são impossíveis ou insuficientes, as necessidades nutricionais por ocorrer por meio de nutrição enteral.
Nesse caso uma alimentação líquida é administrada diretamente no estômago ou intestino por uso de sondas.
A prescrição da introdução enteral e a prescrição da localização da sonda é conduta médica.
Ao nutricionista cabe a prescrição dietética, ou seja, qual dieta usar para atingir as necessidades nutricionais.
Dieta no cuidado paliativo
É uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias que enfrentam doenças com risco de vida, por meio de prevenção e do alivio de sofrimento, pela identificação precoce e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais.
Na doença de Alzheimer avançada, dietas rígidas e restrições alimentares devem ser repensadas. A alimentação deve ser de conforto neste momento, visando controle de sintomas, necessidades nutricionais básicas e os desejos do idoso. Respeite as quantidades toleradas por ele.
Função intestinal
Durante a progressão da doença de Alzheimer podem ocorrer alterações na função intestinal.
Constipação, obstipação ou prisão de ventre, se caracteriza pela dificuldade persistente na evacuação.
Se o idoso permanecer mais de três dias sem evacuar ou permanecer com fezes muito amolecidas ou endurecidas durante três a quatro dias, procure ajuda médica.
Recomendações nutricionais para constipação
- Consumir diariamente no almoço e jantar legumes crus como, alface, acelga, agrião, rúcula, couve, repolho e rabanete;
- Consumir frutas frescas com casca e bagaço;
- Aumentar a ingestão de água;
Frutas laxantes: mamão, ameixa, laranja, mexerica, abacaxi, acerola, morango, pitanga, melancia, melão, kiwi, pêssego, abacate.
Alimentos que prendem o intestino: pão feito com farinha refinada, macarrão, massas, biscoitos;
Frutas para evitar: banana-maçã, maçã sem casca, caju, goiaba;
Legumes cozidos para evitar: batata, mandioca, inhame, cenoura, e chuchu cozidos.
Recomendações nutricionais para diarreia
No caso de diarreia três vezes ou mais no dia, a equipe de saúde deve ser comunicada.
A hidratação é de suma importância nesse momento, por isso se deve priorizar a ingestão de água, água de coco, suco de frutas e soro caseiro.
Recomendações da oferta das refeições
O momento da refeição deve ser adaptado à medida que a doença progride.
É normal acontecer confusões em reconhecer a fome, sede e saciedade, e que as refeições sejam esquecidas de serem realizadas ou esquecidas assim que são feitas.
É importante que a família siga uma rotina alimentar de horários definidos, e que o momento das refeições seja calmo e sem distrações.
Com a perda motora e a dificuldade de usar utensílios, os idosos irão necessitar de auxilio no momento de alimentação.
Concluindo, a alimentação nos cuidados é fundamental na progressão da doença de Alzheimer, e a disseminação de informações de estratégias nutricionais buscam contribuir na prática alimentar cotidiana. O apoio de uma equipe multiprofissional da área da saúde também é essencial no tratamento da doença, devido a sua complexidade.
O objetivo do tratamento sempre será o bem-estar e a qualidade de vida ao acometimento da doença de Alzheimer e seus cuidadores.