Os efeitos da cannabis começaram a ser mais estudados a partir da identificação de seus compostos químicos, que ficaram conhecidos como canabinóides, devido ao fato de se ligarem em receptores do sistema endocanabinóide, presentes no sistema nervoso central.
Esta planta possui cerca de 400 compostos, incluindo em média 60 canabinóides, sendo que os principais são o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).
O CBD tem apresentado diversas evidências terapêuticas no tratamento de insônia, ansiedade, epilepsias, inflamações, danos cerebrais e etc. Já o THC está em estudo para o tratamento de epilepsias, espasmos, insônia, dor, glaucoma, asma, doença de Alzheimer, doença de Parkinson, câncer neuronais e de bexiga; e já possui efeitos consagrados como antiemético, estimulante do apetite, analgésico e contra os sintomas de esclerose múltipla.
As patologias neurodegenerativas até o momento não tem cura, portanto as terapêuticas atuais são focadas no tratamento dos sintomas e tentam atrasar a progressão das doenças. Estudos demonstram que a sinalização endocanabinóide se encontra alterada em várias destas doenças, por isso acredita-se que a modulação do sistema endocanabinóide pode ser uma alternativa útil no tratamento da neurodegeneração.
A relação do cannabis com a medicina integrativa
Apesar de ter sido bastante utilizada na antiguidade para diversas finalidades, seus efeitos colaterais adversos fizeram com que fosse vista negativamente, levando à proibição e marginalização em muitos países, inclusive no Brasil. Isso aconteceu por diversos motivos relacionados ao fato de que, na época, os princípios ativos da planta ainda não haviam sido isolados e estudados, e os extratos geravam efeitos inconsistentes e diversos, sendo muitas vezes indesejáveis.
O uso medicinal da Cannabis precisava ser aperfeiçoado para recuperar o seu interesse clínico o que só ocorreu na década de 1990, com a descoberta dos receptores canabinóides endógenos que apontavam para novos usos terapêuticos da Cannabis. E assim, o número de estudos acerca desta substância aumentou significantemente, refletindo o interesse para a comunidade científica.
Os receptores de canabinoides alojados no interior do corpo estão prontos para se ligar aos canabinoides encontrados na planta Cannabis e, assim, proporcionar benefícios terapêuticos sobre uma diversidade de doenças.
Pacientes com Alzheimer, Parkinson, epilepsia, autismo, depressão, insônia, ansiedade, síndrome do pânico, dores crônicas, enxaquecas, além de pacientes com obesidade que buscam emagrecer. E no futuro muitas outras doenças poderão ser tratadas com a cannabis medicinal.
Cannabis: tratamentos indicados
As recentes pesquisas acerca da cannabis sugerem que suas aplicações clínicas são bastante amplas, incluindo o alívio da dor, náuseas, espasticidade, glaucoma e distúrbios do movimento. Além de ser um poderoso estimulante do apetite, principalmente para pacientes que sofrem de HIV. Algumas pesquisas modernas também acreditam que os canabinoides podem ajudar a proteger o organismo contra alguns tipos de tumores malignos.
No caso de pacientes com dor crônica, o uso de canabinoides trata a dor, melhora o humor e o sono. Também, os pacientes com esclerose múltipla ou dor neurogênica não tratável relataram os benefícios dos canabinoides, incluindo redução da ansiedade, da depressão, bem como dos espasmos musculares e da dor.
Conceitos e preconceitos sobre a cannabis
O uso da cannabis de forma medicinal está descrito desde as mais antigas civilizações, e apesar de vários estudos comprovarem sua eficácia terapêutica, o canabidiol acaba sofrendo um reflexo negativo quanto sua utilização, ainda que de forma medicinal. Por isso, se faz cada vez mais necessária a instrução da população sobre as diferenças entre cada canabinóide encontrado na planta e seus mecanismos de ação.
O uso recreativo da cannabis ainda é ilegal no Brasil, o que ressalta uma importância desse assunto no âmbito cultural da sociedade brasileira. E o desenvolvimento e uso de produtos derivados da planta cannabis, seja para fins terapêuticos ou recreativos, apresenta uma série de riscos devido às conotações culturais e legais que envolvem esta planta.
Apesar de canabinóides como o canabidiol possuírem benefícios comprovados à saúde, o debate acerca do seu uso medicinal ainda é bastante controverso e polêmico. O conteúdo debatido por vezes é pautado em discursos moralistas, que associam o uso de cannabis de forma medicinal ao seu uso de forma recreativa e ilegal. Contudo, são necessários estudos que permitam entender a interações entre os 113 canabinoides e até mesmo com outras substâncias, uma vez que pode ocorrer diferentes respostas ao se isolar ou não um desses compostos.
Concluindo…
A utilização de cannabis e seus derivados é milenar, no entanto, o estudo de suas propriedades, dos seus análogos e dos receptores canabinoides é muito recente, após a descoberta dos canabinoides endógenos os estudos científicos intensificaram-se em busca de desvendar seu real potencial medicinal.
As recentes pesquisas realizadas sobre o uso de cannabis para fins medicinais comprovam a sua eficácia em tratamentos é terapias de diversas doenças, A cannabis é utilizada legalmente em tratamentos em Países como Estados Unidos, Canadá, República Tcheca, Uruguai, Argentina, Portugal, Holanda, Espanha, Canadá, Itália, Israel entre outros.
O projeto de lei que prevê a distribuição gratuita de medicamentos à base de canabidiol (CBD) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de São Paulo, o secretário da Saúde do Estado, Eleuses Paiva, afirmou que a estimativa é de que o produto passe a ser distribuído aos pacientes na rede estadual em até 45 dias.
Isso porque, conforme prevê a própria lei, será necessário formar uma comissão técnica para definir as regras para indicação clínica do medicamento e as formas de distribuição na rede.
Com isso, pode-se concluir que a cannabis é sim um medicamento em potencial, visto que há melhora dos sintomas de diversas doenças, mas ainda é preciso estudos que comprovem ainda mais sua eficácia. E para que esses estudos sejam realizados, um ponto importante é a desconstrução de conceitos e preconceitos que foram criados ao longo dos anos acerca do uso recreativo da cannabis como droga de abuso, e que impedem que a temática ganhe força na ciência, no Estado e na sociedade.